A audiência pública promovida pelo Corpo de Bombeiros em 26 de março de 2025, abordou um tema cada vez mais relevante para a segurança dos condomínios: a relação entre segurança e a eletromobilidade. A discussão girou em torno da crescente adoção de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia, como as baterias para carros e sistemas fotovoltaicos, que trazem novos desafios para a infraestrutura elétrica das residências e comércios, incluindo os condomínios.
Este espaço de diálogo reuniu especialistas que analisaram os impactos e as necessidades de adaptação das instalações elétricas à nova realidade da eletromobilidade. No entanto, a audiência pública não teve como objetivo apresentar uma regulamentação definitiva. Ao invés disso, serviu como uma plataforma para a troca de ideias e identificação das principais preocupações em relação à segurança. Agora, aguarda-se que o Corpo de Bombeiros elabore uma norma técnica para regulamentar as questões discutidas, oferecendo orientações claras para síndicos, engenheiros e profissionais da área.
O Impacto da Eletromobilidade no Sistema Elétrico
A transição para veículos elétricos (VEs) e a popularização de sistemas de armazenamento de energia fotovoltaicos trazem uma complexidade adicional ao cenário energético dos condomínios. O crescimento da demanda por pontos de recarga de carros elétricos e o uso mais intenso de baterias, muitas vezes em conjunto com sistemas solares, exigem uma atualização na infraestrutura elétrica dos condomínios. Isso inclui a necessidade de maior atenção a possíveis riscos de incêndio e a adequação das instalações elétricas para suportar as novas demandas.
A principal questão levantada na audiência foi a de que, à medida que mais condomínios e imóveis adotam sistemas que operam em corrente contínua (CC), a complexidade das instalações elétricas tende a aumentar. Diferente da corrente alternada (CA), utilizada na maioria das redes elétricas atuais, a corrente contínua é mais suscetível a gerar arcos elétricos, o que pode aumentar o risco de incêndios caso não sejam adotadas medidas preventivas rigorosas.
Corrente Alternada x Corrente Contínua: O Que os Síndicos Precisam Saber
Muitos síndicos podem não estar familiarizados com o conceito de corrente contínua (CC), especialmente em comparação com a corrente alternada (CA), que é a forma de energia usada na maioria das instalações elétricas atuais. Em termos simples, a corrente contínua é um tipo de eletricidade que flui em uma direção constante, ao contrário da corrente alternada, onde a direção do fluxo de eletricidade inverte periodicamente. No contexto de veículos elétricos e sistemas fotovoltaicos, a CC é comumente usada para carregar baterias e para o armazenamento de energia.
A grande preocupação aqui é que a CC apresenta um risco maior em relação a falhas elétricas. Sistemas de corrente contínua não têm a mesma capacidade de interrupção de corrente que os sistemas de corrente alternada, o que significa que se ocorrer um curto-circuito ou sobrecarga, o risco de incêndio é mais elevado. Portanto, os síndicos devem estar cientes da necessidade de adaptar a infraestrutura dos condomínios para lidar com essa nova realidade, tomando precauções adicionais, como a instalação de sistemas de proteção adequados e a capacitação de profissionais para a manutenção desses sistemas.
O Papel do Síndico na Adaptação às Novas Realidades
Diante dessa nova configuração elétrica, os síndicos desempenham um papel crucial na adaptação dos condomínios. As discussões levantadas durante a audiência pública reforçam a importância de realizar uma avaliação cuidadosa das necessidades energéticas do condomínio, especialmente em relação à instalação de pontos de recarga para veículos elétricos e à integração de sistemas fotovoltaicos.
Entre as medidas que os síndicos devem considerar, destacam-se:
- Avaliação da Capacidade Elétrica: Antes de permitir a instalação de pontos de recarga de veículos elétricos ou sistemas de armazenamento de energia, é fundamental que os síndicos solicitem uma avaliação técnica da capacidade da rede elétrica do condomínio. A expansão dessa infraestrutura pode exigir um reforço na rede elétrica existente.
- Atenção à Instalação de Sistemas de Corrente Contínua: Como a corrente contínua é mais suscetível a riscos de incêndio, os síndicos devem garantir que todas as instalações de pontos de recarga e sistemas fotovoltaicos estejam em conformidade com as normas de segurança. O uso de dispositivos de proteção específicos, como disjuntores para corrente contínua, deve ser considerado.
- Treinamento e Conscientização: Os síndicos também devem promover treinamentos periódicos para os moradores e profissionais envolvidos na manutenção dos sistemas elétricos, a fim de garantir que todos estejam cientes dos riscos e das boas práticas para a utilização segura dos novos sistemas de energia.
- Monitoramento Constante: A implementação de novos sistemas elétricos deve ser acompanhada de perto para identificar problemas precocemente. O monitoramento contínuo dos sistemas de recarga e das baterias de armazenamento pode ajudar a prevenir falhas graves.
O Futuro da Segurança nos Condomínios
O impacto da eletromobilidade no dia a dia dos condomínios é inegável, mas também é uma oportunidade para que os síndicos assumam um papel de liderança na adaptação à nova realidade energética. A norma técnica que está sendo aguardada do Corpo de Bombeiros trará orientações essenciais para garantir a segurança nas instalações e o bom funcionamento dos sistemas, e os síndicos deverão estar atentos a essas atualizações.
É importante destacar que, embora a audiência pública tenha sido um primeiro passo para discutir as questões envolvidas, o grande desafio agora é esperar que a regulamentação seja implementada de forma eficaz e clara.
Quando essa norma técnica for emitida, será fundamental que os síndicos estejam prontos para implementar as mudanças necessárias, garantindo a segurança e o bem-estar dos moradores. A participação ativa na discussão e a busca por soluções inovadoras e seguras serão fundamentais para os condomínios que desejam estar preparados para os desafios da eletromobilidade.
Rodolfo Pagotto – Síndico e Diretor do Guia do Síndico